Numa sociedade em que a “forma escolar” se impõe em quase todas as dimensões da vida dos indivíduos, quem não estiver à altura de se apropriar dela e de a bem manusear acaba por viver um sentimento de exclusão que dificilmente será apagado. A este sentimento acresce um outro de frustração, relativamente ao facto de ser claro para os estudantes e para as respetivas famílias que tal facto terá como efeito, a prazo, o desenvolvimento de situações de difícil integração social (Silva & Pinto, 2016). Ullastres (2003), afirma que as crianças e jovens que vivenciam situações de insucesso, têm mais probabilidades de abandonar prematuramente o sistema educativo, têm menor confiança sobre onde poderão chegar profissionalmente e uma baixa motivação para aderir a programas de formação. Para além disso, terão dificuldade em adaptar-se a exigências laborais crescentes, aumentando o risco de marginalização social e económica.
Esta problemática assume uma relevância cada vez maior, tanto no seio escolar, como nos seios familiares e comunidade envolvente. Dada a relevância que o sucesso escolar tem para a vida futura, tanto profissional como pessoal, a APEI, sob a coordenação científica e pedagógica do Doutor Miguel Borges, criou o Programa Sparkle – Transforming education.
Este programa tem como principal estratégia levar às práticas dos docentes o que a investigação, nomeadamente a “ciência da leitura”, tem produzido nas últimas cinco décadas, sobre como se aprende e ensina o código escrito, pois ficou amplamente demonstrado que as dificuldades de aprendizagem radicam nas dificuldades de leitura. Adicionalmente, a investigação também preconiza a intervenção atempada, ou seja, perceber a aprendizagem do código como um processo contínuo, que se inicia formalmente na Educação Pré-Escolar e tem continuidade no 1.º ano de escolaridade.
As dificuldades no domínio do código escrito exacerbam-se e extravasam para outros processos cognitivos além da leitura, com consequências que vão muito para além do plano cognitivo, afetando o nível emocional e comportamental. Estudos recentes correlacionam as dificuldades de leitura com determinados tipos de ansiedade. Por parte dos docentes cria-se um sentimento de ineficácia e uma aceitação de que nem todas as crianças podem aprender a ler. O primeiro passo da desistência…
A investigação refere que a principal contribuição para o sucesso na aquisição do código escrito é a qualidade do processo de ensino e a imagem de criança que continua a prevalecer na escola. O Programa Sparkle responde a estas lacunas, implementando estratégias e materiais na vanguarda do que a ciência da leitura tem produzido nas últimas décadas e que estão amplamente comprovados pela investigação. Quer os materiais, quer as estratégias serão construídos na base das pedagogias participativas, que colocam a criança com um papel ativo na construção do seu próprio conhecimento, o que também concorre para o seu bem-estar no processo de aprendizagem. No fundo, desenvolver um processo educativo de qualidade. Just a little sparkle…